Prosseguem, em Ariccia, nas proximidades de Roma, os exercícios espirituais do Papa com seus colaboradores da Cúria Romana. Depois da primeira meditação, domingo (06/03), na chegada, esta manhã o pregador, Padre Ermes Ronchi, propôs como tema o trecho evangélico de Marcos “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”.
“Medo e fé” – afirmou o religioso servita – são “os antagonistas que disputam eternamente o coração do homem. A Palavra de Deus, do início ao fim da Bíblia, conforta e insiste: não temeis, não tenhais medo!”. “O medo não é tanto a falta de coragem, mas a falta de confiança. O medo de Deus é porque temos uma imagem errada Dele, como Adão e Eva que creem num “Deus que tira e não num Deus que ama”.
“Creem num Deus que rouba liberdade, ao invés de dar possibilidades; creem num Deus a quem interessa mais a lei do que a alegria de seus filhos; num Deus que julga, do qual fugir e não correr atrás; um Deus, no fundo, de quem não se deve confiar. O primeiro de todos os pecados é o pecado contra a fé”.
Deus não nos salva da cruz, mas na cruz
Citando o teólogo luterano alemão Bonhoeffer, Padre Ronchi disse que “Deus não salva do sofrimento, mas no sofrimento, não protege da dor, mas na dor, não salva da cruz, mas na cruz. Deus não traz a solução de nossos problemas, traz a si mesmo e doando-se, nos da tudo. Pensávamos que o Evangelho resolveria os problemas do mundo ou pelo menos reduziria as violências e as crises da história, mas não é assim. Ao contrário, o Evangelho trouxe consigo a negação, as perseguições e outras cruzes; por exemplo, pensemos nas 4 religiosas mortas em Aden”.
“Jesus – observou o pregador – nos ensina que existe um único modo para derrotar o medo: a fé!. E a missão da Igreja, também em seu interno – é liberar do medo que nos leva a vestir máscaras diferentes com os nossos parentes, colegas e superiores. Quem transmite a fé deve educar a não ter medo, não incutir medo e libertar do medo”.
A Igreja e a fé mesclada com o medo
“Por muito tempo, a Igreja transmitiu uma fé mesclada de medo, que rodava ao redor do paradigma culpa/ castigo, e não do florescimento/plenitude. O medo nasceu em Adão porque ele não soube imaginar a misericórdia e seu fruto, que é a alegria. O medo, por sua vez, produz um cristianismo triste, um Deus sem alegria. Libertar do medo significa trabalhar para retirar o véu de medo do coração de tantas pessoas: o medo do outro, o medo do estrangeiro. Passar da hostilidade, que pode ser instintiva, à hospitalidade; da xenofobia à xenofilia… e libertar os fiéis do medo de Deus, ser anjos que libertam do medo”.